1 de mar. de 2010

Meus sinceros pêsames ao Mundo_"REPAREI QUE A POEIRA SE MISTURAVA ÀS NUVENS"



Cecília Meireles
Reparei que a poeira se misturava às nuvens,
e, sem pôr o ouvido na terra,
senti a pressa dos que chegavam.
Disse-me de repente: "Eis que o tropel avança".
Mas todos me olhavam como surdos,
e deixavam-me sem responder nada.
Vi as nuvens tornarem-se vermelhas
e repeti: "Eis que os incêndios se aproximam".
(Mas não havia mais interlocutores.)
"Eles vêm, eles não podem deixar de vir",
balbuciei para a solidão, para o ermo.
E já por detrás dos montes subiam chamas altas;
ou eram estandartes ou eram labaredas.
Perguntei: "Que me vale ter casa, parentes, vida?
Sou a terra que estremece? ou a multidão que avança?
Ó solidão minha, ó limites da criatura!
Meu nome está em mim? no passado ou no futuro?
Ninguém responde. E o fogo avança para meu pequeno enigma".
Apenas um anjo negro entreabriu seus lábios,
verdadeiramente como um botão de rosa.
"Death"
DEATH?
Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida inteira
essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.

(em homenagem às vítimas das tragédias naturais dos últimos dias! fevereiro de 2010!, meus sinceros pêsames ao mundo!_by Metrílica +)

Um comentário:

  1. masuoka --netlog8:40 PM

    Poeira ao Vento

    Palavras, fazem parte da minha lembraça...
    Algo que perturba o meu ser..
    Promessas em forma de sonhos..
    Poderia eu acreditar, num sonho que um dia viesse a desabar..
    Nada daquilo, era a verdade...
    Escondida em devaneios..
    Fico agora a me contentar,
    Com as minhas ilusões..
    Promessas de amor além vida...
    Mas que morreu, antes de Nascer..
    Assim sou eu... hoje na busca de explicações..
    Que um dia tentarei entender..
    Palavras que viraram
    Poeira ao vento..
    Lançadas ao desatino..



    rodrigo ---companhia da poesia

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